A teoria do valor pode aparecer como algo esotérico, que é melhor
deixarmos para livros didáticos e na sala de aula. No entanto, essa
opinião é bem errada. A teoria do valor é uma das determinantes mais
fortes quando se pensa sobre a economia, a sociedade e a política.
A relação entre a teoria do valor e a ideologia política é bastante
clara no marxismo, cuja base é a teoria do valor-trabalho. Segundo essa
teoria, o valor de uma mercadoria depende da quantidade de trabalho
necessária para produzir esse bem. Uma vez que esta premissa é adotada, o
resto do edifício intelectual que promove o socialismo segue quase que
automaticamente.
Não é sem triste ironia que a teoria do valor-trabalho foi criada
pela escola clássica da economia. Os principais autores da escola
clássica obviamente não se derem conta de que a teoria do valor-trabalho
está não somente em contradição com a liberdade individual, mas também
contem erros profundos.
Não foi até 1871, quando as falhas fundamentais da teoria do
valor-trabalho foram reveladas e claramente refutadas de Carl Menger em
seu livro Princípios da Economia.
Menger, que era um jornalista financeiro antes de se tornar professor
universitário, viu que muitas proposições fundamentais da economia
clássica, e consequentemente do marxismo, estão cheios de contradições
internas e em grave conflito com a realidade.
O fundador da Escola Austríaca da Economia mostrou em sua obra prima
que o valor econômico não está embutido no próprio bem. A origem do
valor não é trabalho, mas o valor é o resultado do serviço que um bem é
capaz de fornecer para o consumidor. Assim o valor não está dentro do
bem, mas depende da ativa avaliação humana da utilidade do bem.
Uma consequência desta perspectiva é que o valor do bem muda de
acordo com a utilidade a qual o bem oferece para o usuário. Para uma
pessoa que passou o dia no deserto sem abastecimento de água, uma
garrafa desta tem muito mais valor que a mesma quantidade em um dia
normal.
O valor de um bem muda com as circunstâncias. Isto também significa
que o valor no mesmo ato de consumo sofre de uma diminuição marginal, o
que implica que o primeiro gole tem um valor maior que o último, assim
com a primeira mordida de uma refeição possui muito mais valor do que a
última mordida dessa mesma refeição.
Dado que o valor de um bem depende da avaliação humana, deduz-se que
esse valor é marginal, individual, subjetivo e circunstancial, logo, a
teoria clássica da economia e a teoria econômica marxista estão sem
fundamento. A correta teoria de valor requer uma metodologia econômica
individualista e marginalista, e como ideologia política, a teoria de
valor subjetivista-marginal implica uma ideologia política
individualista de liberdade e de livre escolha.
“Valor” é um conceito relacional e o ato da avaliação é um ato
mental. Por exemplo, se alguém recebe um presente, o objeto dado será
sujeito a um valor diferenciado a depender de quem é o responsável pelo
presente. Os mesmos bens sofrem alterações do grau de valor ao longo do
dia, pela mesma pessoa, assim como o valor desses mesmos produtos sofrem
alterações de acordo com idade, estação do ano ou local onde se vive.
Logo, quando as circunstâncias mudam, o mesmo acontece com as
avaliações.
Nesta perspectiva segue mais uma implicação importante: O valor
econômico dos fatores de produção (incluindo o trabalho mesmo) é
relacionado com o valor de bens de consumo. Esta “lei de imputação” diz
que os bens de produção (trabalho, capital, natureza) não gozam de valor
autônomo, mas, sim, seu valor é derivado da sua contribuição para o
fornecimento de bens de consumo. O cálculo do custo — que se inicia
desde os primeiros estágios da produção até quando a mercadoria está na
mão do consumidor — é bem diferente da cadeia de atribuição do valor,
que, aliás, corre na direção oposta.
Outra implicação importante da teoria do valor marginalista é que não
faz sentido procurar pelo valor estabelecido de modo abstrato como “o
valor da comida”, ou “o valor da educação”, ou o “valor do transporte”,
pois esta forma de resmungar provoca contradições e confusões. Na fala
comum da política de gritar por “mais educação”, “mais saúde”, e outros
“mais” em geral, evita-se o confronto com o problema central da escassez
e assim com a necessidade de avaliar as compensações marginais.
Preço é diferente de valor. Preços refletem a escassez relativa dos
bens no contexto da economia local, nacional e global. No confronto da
objetividade dos preços com a avaliação subjetiva se decide sobre o ato
de compra e venda. Com o mesmo preço, no ato de troca o vendedor e o
comprador ganham, porque respectiva dos valores individuais, a troca
envolve bens diferentes no sentido de diferentes percepções da utilidade
do mesmo bem.
É uma tragédia profunda que o discurso político ainda está marcado da
teoria de valor errada do tipo da escola clássica e do marxismo. Sem
notar as contradições lógicas e sem notar o conflito com a realidade se
continua falar de valores no sentido abstrato, coletivo e absoluto.
Assim, o discurso político como ainda hoje existe, não só no Brasil,
aparece mais ser um círculo infantil que um discurso racional.
Até hoje em dia, a retórica e prática do setor público esta dominada
da teoria do valor antiga. No discurso político se propõe projetos em
termos de valores abstratos e absolutos e em categorias coletivas. Não
chega como surpresa que também nos países não-comunistas, a oferta de
“bens públicos” acontece no mesmo jeito como foi o caso com quase toda a
produção na União Soviética do passado, onde se produzia calçados e
vestidos sem cuidar nem do tamanho nem da cor porque o plano era incapaz
de diferenciar e o que contava para as “empresas” não era a satisfação
do consumidor, mas cumprir as quotas do plano central.
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