Neives Baptista nasceu em 27 de junho de 1936, em Pelotas, interior
do Rio Grande do Sul, um dos pólos culturais do estado. Filho de uma
dona de casa e um oleiro, teve uma infância simples, mas de muitas
brincadeiras, na qual aprendeu o ofício do pai e se divertiu com o
agitado carnaval pelotense. Foi ainda muito jovem que descobriu que
tinha o dom de ver os mortos. Seus pais, por muito tempo, acharam que o
menino estava louco e acreditavam que suasvisões eram obras do demônio.
Neives, ainda menino e assustado, passou a escondê-las dos pais.
“Assim como Papai Noel, o Diabo também não existe. Mas é preciso
estudar para compreender isso. E existem as formas corretas para
orientar, ensinar e manipular as energias. Minha vida nada seria sem a
profundidade que alcancei através da espiritualidade. A religião afro
sempre vai existir, mesmo que tenha sido afetada pelo branqueamento da
cultura européia”, diz Baptista.
Em 1954 ele prestou serviço militar em Bagé, e lá compôs o primeiro samba “2º Esquadrão”.
Tocou a sua vida, trabalhou em diversos empregos. Foi oleiro em uma
fábrica de vidro, taxista, ajudante de caminhoneiro e encontrou a sua
vocação na profissão de motorista de ônibus da empresa Nossa Senhora da
Penha, na qual trabalhou por 20 anos até se aposentar. Depois de sua
aposentadoria, recebeu uma missão espiritual: deveria consultar seus
ancestrais africanos para desenvolver um instrumento que há muito tempo
havia sido esquecido nos carnavais de sua cidade – o Sopapo.
Aos 73 anos, o Mestre Baptista é carnavalesco premiado, com
participações nas escolas Imperatriz da Zona Norte, Estácio de Sá,
Academia do Samba, Estação e Telles.
A festa popular deixou de ser participativa, tornando-se evento
comercial. Afirmação de Baptista, que também menciona a folia local como
imitação do Carnaval carioca. Embora reconheça que não se possa retomar
o Carnaval que caracterizava Pelotas, frisa que a imitação também não é
a solução. E, como etapa dessa mudança, a perda da batida que o Sopapo
proporcionava. Ao invés do instrumento autêntico da história negra de
Pelotas, houve a opção pelo “surdo de terceira”, invenção daqueles que
desconheciam a afinação proporcionada pelo Sopapo. A observação, porém,
não impede a Baptista o destaque à evolução e beleza das escolas de
samba da cidade. O resgate do Sopapo, menciona, daria outro ritmo à
festa.
TAMBOR daqui, o Sopapo oferece som grave. Baptista é mestre na
confecção. A técnica praticamente desaparecida, foi resgatada por ele
através do projeto Cabobu – Encontro dos Tambores do Sul – designação
que homenageia os carnavalescos Cacaio, Boto e Bucha. Ao final dos anos
noventa, o pelotense Giba Giba conseguiu apoio do governo gaúcho e
viabilizou o projeto. Foram duas edições, ambas em 2000, com
apresentações de talentos como Naná Vasconcelos, Djalma Corrêa, Paulo
Moura, Chico César. Baptista integrou-se à iniciativa – em 1999. Na
ocasião, ele confeccionou quarenta instrumentos resultado de oficinas
abertas ao público ministradas no Colégio Pelotense, que foram
distribuídas para personalidades da música e entidades carnavalescas.
Para Baptista, mais do que a sonoridade que distinguia o Carnaval de
Pelotas, o tambor é instrumento espiritual e equivale ao “atabaque-rei”.
Ele acrescenta: “O tambor é o som sagrado dos orixás”.
DESENVOLVER SOBRE A IMPORTÂNCIA DO SOPAPO PARA A HISTÓRIA DO RS
Nos anos 90, esteve presente no bloco Nega Má Fuça, e na criação da
Bateria-Show Santa Teresinha – tocou em Santa Catarina e no Uruguai -,
atualmente Uirapuru e sob a regência do filho Neives José. Baptista
também idealizou o grupo “Filhos de Zumbi” que, através da professora
Maritza Ferreira, se tornaria o atual Projeto ODARA, atualmente Ponto de
Cultura.
Desde 2008 é reconhecido pelo governo federal como Mestre Griô.
Baptista explica que o “Griô”, conforme a tradição africana é aquele
cuja experiência de vida pode ser compartilhada com os mais jovens. Em
setembro de 2007, Baptista esteve em Santa Catarina, participando de
reunião dos Pontos de Cultura da Região Sul. Em novembro daquele ano
também esteve no encontro nacional que ocorreu em Minas Gerais. Mas se o
reconhecimento tem possibilitado a troca com outras realidades do País,
é no Loteamento Dunas que o “Griô” Baptista estave dialogando com a
garotada. Na Escola Municipal ele ministrou oficina sobre a confecção do
instrumento Sopapo. Em 2008 as oficinas também foram levadas a
Salvador, Campinas e Rio de Janeiro. Além disso, esteve desenvolvendo,
no Instituto de Menores de Pelotas, oficinas de bateria com jovens, a
fim de constituir uma bateria-show chamada Lanceiros Negros, em
homenagem aos negros escravizados que lutaram na Guerra dos Farrapos.
Umbandista, é casado com a dona Maria. “Tudo que se refere à cultura me agrada. Sou negro em movimento. Sou feliz”, conclui.
(Texto por: Carlos Cogoy, Museu da Pessoa - Editado por: Coletivo Catarse)"Editor:
- Nesta manhã de Segunda Feira 03/12/2012, o querido amigo Batista nos deixou.
Mestre Batista como era carinhosamente chamado deixa um imenso patrimônio a cultura gaúcha e pelotense. Particularmente, meu amigo Batista foi um dos motivadores para o trabalho que desenvolvo.
Registro aqui meu respeito e sentimento aos amigos e em especial aos familiares.
E a você meu amigo Batista: um até breve, pois tudo que nasce... morre. E a morte não é o fim... é uma transição! "
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